Relíquias: "Reptilia" - The Strokes

Postado por Beckenbauer On quinta-feira, agosto 21, 2008

Aos Strokes todo elogio e admiração. O que esses residentes de Nova York fizeram não foi pouco; a meu ver, eles escreveram o último capítulo da história do rock até o momento. Depois do mais que fantástico Is this it?, eles poderiam ter colocado os pés para o alto, ido para uma ilha paradisíaca qualquer, e nunca mais chegarem perto de um instrumento musical. E não me refiro à grana que eles ganharam, porque pelo que consta na história dos rapazes, abastados desde sempre, nem seria necessário a eles passarem perto de um estúdio para ter vida boa. Esse, aliás, é o grande argumento daqueles que criticam o som do The Strokes: os chamam de "mauricinhos" e "fabricados". Façam-me o favor: estamos falando de rock, não de hip hop. Aliás nem os adoradores do hip hop podem falar mais nada; quer coisa mais fabricada que o rap atualmente com seus milhares de quilos de ouro e carros conversíveis? Bem, isso é nos Estados Unidos, mas as coisas aqui não estão lá tão diferentes, esperemos mais e teremos daqui a alguns anos no Brasil um exército de mauricinhos do terceiro mundo. Caminhamos para isso. Mas torçamos pelos Racionais. Portanto, esse argumento contra a trupe de Julian Casablancas não é válido, e quando eu digo que depois de Is This It? eles poderiam simplesmente ter desencanado da música, que tudo bem, é pelo simples fato de que eles fizeram em um album o que a maioria das grandes bandas passam anos tentando fazer e muitas vezes não conseguem: mudar a percepção das pessoas de uma tal maneira a ponto de ser influência de toda uma geração em um tempo tão curto. E era só o primeiro album, obra esta que desencadeou um efeito dominó na divulgação de bandas boas, que muitas vezes são menosprezadas por causa de seu pouco tempo de trabalho. Mas é assim mesmo; o penúltimo grande capítulo da história do rock, o grunge, no começo também produziu muitos narizes tortos, e o Nirvana fez com que toda uma cena e toda uma geração fosse descoberta ( as bandas irmãs Pearl Jam, Alice in Chains, Stone Temple Pilots, as filhas, como o Silverchair foi mais pra frente) e outra geração que foi "re"descoberta graças a eles (Pixies, Sonic Youth, Meat Puppets).
Isso tudo não é pouco, e graças aos Strokes, houve uma maior visibilidade para coisas como Franz Ferdinand, The Libertines, Interpol, os declaradamente influenciados Arctic Monkeys, mais recentemente The Fratellis, também para ficar em alguns já que a lista é longa. Há também as bandas antigas que muita gente só conhecia de nome e que aprendeu a gostar via Strokes como Velvet Underground, The Stooges, MC5, The Jam, bem como outras nada desconhecidas como os Ramones. Só classe "A".
Ou seja, para os padrões atuais, em que tudo na música é tão descartável e muitas vezes até mesmo desprezível, não tenho medo de dizer que estes cinco rapazes foram e são como um vórtice no rock n roll deste novo século. Com eles a música com guitarras voltou a ter relevância.
Sim, eles poderiam ter descansado e desencanado, mas não, lançaram na sequência outro album maravilhoso: Room on fire, sim, este da ilustração, com maravilhas como 12:51, What ever happened?, The end has no end, under control, automatic stop, e para não colocar todas do album, vou pular direto para a estrela mais importante desta pequena constelação musical; Reptilia.
Reptilia é uma pequena explosão que se consegue ao juntar no mesmo caldeirão um baixo marcado, guitarras rasgadas, um vocal desesperado e uma bateria pulsante. Uma faixa incrível, em que há alternâncias o tempo todo entre os componentes, sem falar do solo, mais do que eficiente. É quase como um jogo, e há de se citar aquele que talvez seja o mais importante atributo desta canção. É dançante. Bem dançante.
Após esse, eles ainda lançaram outro fabuloso album para calar aqueles que ainda duvidavam de seu trabalho, First Impressions of earth. Fenomenal e de uma maior variedade musical, mas ainda não maturou o suficiente para que a crítica o aclame.
Para finalizar, penso que o Strokes fez exatamente aquilo que o Oasis poderia ter feito quando tinha uma maior exposição em seu auge, nos idos de 90: calar a boca para polêmicas bobas, e continuar fazendo o rock de muita qualidade e que (ambas as bandas demonstraram em seus dois primeiros albuns serem capazes de fazer ), e com isso mudar de forma ainda mais efetiva o rumo da música.


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