Relíquias: Revolver, a revolução posta em prática

Postado por Beckenbauer On segunda-feira, abril 12, 2010



Por que Revolver é considerado por muitos o melhor álbum dos Beatles em detrimento dos geniais Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band e Abbey Road? Existem muitas razões possíveis, e não estou tomando partido, mas acredito poder indicar algumas delas:

Se Rubber Soul (1965) dava indícios de que os rapazes de Liverpool estavam se desenvolvendo mais e mais musicalmente, e evidenciando que estavam atingindo o máximo que o yeah yeah yeah podia oferecer, em Revolver, eles não só se afastavam definitivamente da atitude playmobil, como já apontavam múltiplas direções do que o rock, e a música popular como um todo podia vir a ser: uma mescla de lugares, tempos e culturas diferentes, tornando este momento, o ano de 1966, o ápice da miscigenação da música popular mundial até então.

Música erudita e temática não-adolescente

Em “Eleanor Rigby” Paul McCartney cria uma pequena obra de arte com fortes traços da música erudita – arranjos de cordas dão o tom da música – e letra de temática mais adulta que as desenvolvidas até então. Para notar o contraste, basta colocar esta letra sobre uma mulher que vive e morre solitariamente lado a lado com sucessos dos discos anteriores, como “drive my car” do já citado Rubber Soul.

Busca Espiritual

Os outros Beatles afirmaram que a viagem à India foi parcialmente proveitosa, pois em determinado momento se encheram e decidiram voltar para a Inglaterra. George Harisson decidiu ficar mais por lá acompanhando o guru, e quando se reuniu com os demais, incluiu três músicas suas no álbum (feito inédito até então): “Love you to” cheia de tablas e cítaras, “I want to tell you” marcado por uma letra sobre suas preocupações com a dificuldade em se expressar num momento em que se considerava no auge da própria criatividade, e “Taxman”.

Sobre problemas reais, não só amor

“Taxman”, a terceira colaboração de Harrison (e na minha opinião a mais rock do disco) trata de impostos*! Harrison reclama das altas tarifações que o governo inglês impunha a quem tinha grandes rendimentos, dando nomes ao bois; fala sobre o Primeiro Ministro Inglês do Partido Trabalhista e do Líder da oposição. “Mr. Wilson” e “Mr. Heath” na letra. Além disso, o disco trata também de temáticas como morte e solidão citados acima em “Eleanor Rigby”. Tudo muito além do estar-sem-namorada.

Drogas e Psicodelismo

Aqui começa-se a notar as referências e influências das drogas que seriam escancaradas em Sgt Peppers: “And your bird can sing” teve seu solo gravado e reproduzido ao contrário por Harrison. Ringo canta a alegre e cheia de efeitos “Yellow Submarine”, composta por Paul para ser um tema infantil dos Beatles, o que de fato ocorreu com a produção do filme-desenho de mesmo nome em seguida. Já John Lennon, inspirado por uma de suas experiências com LSD diz: ”eu sei o que é estar morto” em “She Said She Said”. Mas outras canções do disco também resvalam no tema das drogas, como “Doctor Robert” (anfetaminas) e “Got To Get You Into My Life” (maconha).

Um novo tipo de canção que toca o coração

Em “I’m only sleeping” Lennon começa a fazer o que para mim viria a ser o melhor de sua obra: o retrato de coisas cotidianas. Lennon eleva a preguiça e a sonolência ao estado de arte. Melhor que isso, só ”A day in the life”**. E Paul novamente mostra suas garras criativas em “For no one”, que é… Algo que vai além de qualquer comentário que um reles mortal como eu possa fazer.

Resumindo:

Além de ser inovador estética e musicalmente como toda a obra da banda, Revolver ainda sai na frentes dos discos anteriores por ser provavelmente o primeiro passo realmente firme que os Beatles deram na revolução musical que hoje proporciona a você, Brasileiro, ver um Japinha,tocando a música de um artista norte-americano. Ah, admito que a outra revolução, a internet, também ajudou bastante, mas esta veio muito, muuuuuito depois dos 4 rapazes de Liverpool.

*Este, aliás, é um problema que não foi exclusivo dos Beatles; os Stones em 1972, época do não menos clássico Exile on main St., tiveram de criar uma manobra para enganar o governo inglês: foram morar na França durante a composição e gravação do disco. Assim sobrava mais grana pro Keith Richards queimar na heroína.

**mas aí já é outro disco.

Este post é originário do Anormal e Amador

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